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Como se a manhã não tivesse pressa em começar, tudo ao redor respira o mesmo ar da noite, só que mais silencioso. Entre as palavras ficam vestígios de conversas anteriores, daquelas onde o amor ainda era um remédio e não um hábito. Parece que se você disser algo mais alto que um sussurro, todo o mundo frágil construído a partir de “só mais um pouquinho” e “vamos fazer isso mais tarde” se dispersará.

O ar cheira a fumaça e chuva, e meus pensamentos são nostálgicos daqueles momentos em que parecia que aquele sentimento iria me salvar. Mas agora é mais como um leve tremor, como aquele grão de granizo que cai na palma da mão e derrete antes que você tenha tempo de entender se dói. E, no entanto, nesta ternura gelada há vida: bela, desajeitada, teimosa.